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sexta-feira, abril 03, 2009

A Mulher em nos.


Jean Wyllys escreve:

É uma característica marcante das culturas gays aquela inversão de gênero na hora de se referir ou se reportar aos pares. Em outras palavras, é comum que um homossexual masculino assumido e que participa de alguma cultura gay trate um amigo ou colega como se ele fosse uma mulher. “Ela é mulher, eu sei”, dizem uns para se referir à homossexualidade daquele que não é assumido. “Você vai ficar com aquele cara? Ele é praticamente uma mulher”, comentam aqueles que desejam apontar e depreciar a feminilidade do outro. “A senhora está podendo, não é?”, falam os que querem elogiar os amigos. “Eu sou bonita, meu amor, b-o-c-e-t-a, bonita!”, debocham os que não se levam a sério. “Sou rica, absoluta!”, emendam os que se levam a sério...

Os exemplos se multiplicam, quem participa da cultura gay sabe disso. Sem falar dos apelidos que os gays recebem dos – e dão aos - amigos e que são versões “femininas” dos verdadeiros nomes masculinos. Versões que, em geral, terminam com o sufixo “ete”. Exemplos? Silvio: Silvete; Ely: Eliete; Gildásio: Gildete; e por aí vai...

Em minha intimidade, eu também troco as pessoas e troco os pronomes, como disse Renato Russo em Meninos e meninas. Mas, sempre troco pessoas e pronomes com propósitos positivos. Eu sou um feminista. Identifico com as mulheres e gosto de mulheres não só por saber que o movimento gay nasceu do movimento feminista, mas, sobretudo, porque a cultura reservou ao gênero feminino o que tem melhor. Concordo com Gilberto Gil que a melhor porção de um homem é sua porção mulher, aquela que o faz viver. E estou certo, como o está Chico César, de que já fui mulher, eu sei, e de que nenhuma mulher me basta. Nasci de uma mulher, convivi com mulheres em casa e na escola e namorei bastante com mulher...

Mas, nem todo homossexual masculino se relaciona com as mulheres dessa maneira, principalmente com as mulheres lésbicas. Vigoram entre os gays uma misoginia (aversão a mulheres) e um machismo assustadores; aqueles mesmos machismo e misoginia que vigoram também entre as próprias mulheres (por exemplo, é muito comum uma mulher dizer que mulher nunca é amiga de outra e que, por isso, prefere ser amiga de homens). Há guerra de sexo no seio da comunidade LGBT. Nem sempre há harmonia entre as cores de nosso arco-íris. Os gays, travestis e transexuais estão sempre jogando aberto ou fechado com o universo cultural feminino. Estão sempre ou se refletindo no espelho da mulher ou fugindo de seu reflexo naquele espelho. A única coisa certa é que um homossexual masculino nunca é indiferente às mulheres.

Se você mora em São Paulo e se interessa ou se interessou por esta discussão, então, você não pode perder o debate A mulher em nós - feminismo, misoginia e guerra dos sexos entre LGBT´s, que vai reunir a escritora, cantora e compositora Vange Leonel, a jornalista Ana Fadigas (criadora e ex-editora de G Magazine) e eu e que vai acontecer no próximo dia 06 de abril, segunda-feira, na Livraria Cultura do Market Place Shopping Center (Avenida Dr. Chucri Zaidan, 902) a partir das 19h. Você é nosso convidado especial! Na seqüência, farei o lançamento de TUDO AO MESMO TEMPO AGORA, meu terceiro e mais novo livro. Apareçam.

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