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domingo, julho 26, 2009

Paradas: orgulho gay?

A maioria das paradas acaba tornando-se grandes festas, não se parecendo em nada com o motim de Stonewall

Passado o 28 de junho, as principais cidades do país e do mundo param para dar lugar à cidadania de homossexuais, bissexuais, travestis e transgêneros, que saem às ruas demonstrando seu orgulho. Bonito, né? O problema é que a história não é bem assim. A visibilidade que nos é dada em um dia não se reproduz nos outros 364 dias do ano e, passado o “carnaval”, continuamos a ser discriminados, desrespeitados, agredidos, mortos.

Não estou fazendo uma crítica às paradas em si, mas sim à despolitização que se percebe nelas. Acabam tornando-se grandes festas, não se parecendo em nada com o motim de Stonewall*.

Claro que não há problema algum na realização de grandes festas ao ar livre onde todos possam viver sua sexualidade e mostrar ao mundo seu orgulho em ser diferente, o fato é que esse tal orgulho nem sempre existe. Um exemplo disso é quando alguém é agredido na parada, como ocorreu em São Paulo, e não quer registrar ocorrência na polícia para não se expor. Podem chamar-me chata, mas não creio que o verdadeiro orgulho sirva apenas para festejar e sucumba frente a um policial.

Creio que o fato de o Brasil sediar algumas das maiores Paradas do mundo, e de elas serem realizadas em tantas cidades é uma grande conquista, mas esses dias devem ser - também - dias de luta, não apenas de festa, para que nosso país, além de ter as maiores paradas, deixe de ter uma das legislações mais atrasadas do mundo ocidental em relação aos direitos humanos dos GLBTs.

*Stonewall-Inn era um bar freqüentado por GLBTs, em Nova Iorque, que pagava propina à polícia para funcionar. Na noite de 28 de junho de 1969 a polícia, mais uma vez, invadiu o bar alegando falta de licença para a venda de bebidas. Todos os travestis que lá estavam foram presos.

Teria sido apenas mais uma noite de prisões em Stonewall, mas alguns freqüentadores do bar resolveram resistir e enfrentar os policiais, em solidariedade aos presos. A guerrilha estava armada: policiais de um lado, gays e lésbicas do outro, e travestis na viatura. Garrafas, latas e moedas voavam sobre os policiais que, quando viram a multidão enfurecida, se refugiaram dentro do próprio Stonewall. Enquanto os homossexuais começaram a, literalmente, atear fogo ao bar. Ameaçados, os policiais apontaram extintores e mangueiras, mandando água em direção à multidão furiosa. Logo depois chegaram reforços policiais que tentaram dispersar o grupo rebelde. Mas de nada adiantou: o pessoal não saiu dali e voltou a se agrupar para vaiar a polícia atirando pedras, tijolos, garrafas e pondo fogo nas latas de lixo. Quando finalmente conseguiu acalmar a situação, a polícia voltou para a esquadra com um saldo de 13 presos.

No dia seguinte, os policiais voltaram ao bar. Mas a multidão de gays, lésbicas e travestis também voltou mais organizada, com uma atitude mais política, e alguns começaram a pichar frases nas vitrines e nas paredes, reclamando direitos iguais. Outros gritavam exigindo o fim das rusgas nos bares gays. Novamente a multidão atirou pedras e garrafas em direção aos policiais e mais uma vez a polícia investiu contra os manifestantes.

Os homossexuais contaram com a solidariedade dos habitantes locais e tudo só acabou com a decisão do Presidente da Câmara de acabar com a violência policial.
No terceiro dia, um domingo, as coisas pareciam ter voltado ao normal e o bar Stonewall foi reaberto. Os seus clientes habituais voltaram, a polícia deixou-os em paz por um tempo e os jornais acabaram por se ocupar de outros assuntos.

Mas na verdade tudo havia mudado. A partir daquele dia, aqueles gays, lésbicas e travestis perceberam que nunca iriam ser aceitos pela sociedade se ficassem apenas à espera e a depender da boa vontade da sociedade. A rebelião mostrou que a atitude que deveria ser tomada era a do enfrentamento. O discurso mudou. Nada mais de pedir para ser aceito: era preciso exigir respeito.

Fonte: Parada Lésbica.

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