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quarta-feira, abril 08, 2009

As dores e as delícias de ser lésbica

Helena e Beatriz ensinam uma esforçada recém-convertida a se situar


Por Beatriz Almeida e Helena Moraes


- Meu amor, eu tenho uma coisa pra te confessar.
- O que foi?
- Eu ia te mandar flores ontem, mas eu não sabia se... err... era isso que uma mulher fazia quando namorava outra.
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
- Por que você está rindo de mim? Pare! Eu simplesmente não sei como funciona!

Vinda da minha namorada "recém-convertida", aquela foi a declaração mais fofinha dos últimos tempos. No entanto, aquilo representava bem mais do que uma declaração de amor. Era a mistificação do lesbianismo, a mania retrógrada e machista que a sociedade tem de achar que em toda relação deve existir um homem (dominante) e uma mulher (dominada). Durante muito tempo me ofendi com o termo opção sexual. Afinal, quem, no mundo inteiro, escolheria ser lésbica se tivesse uma opção? É sempre mais esperto ir pelo caminho mais fácil. Por essas e outras, sempre preferi usar o termo identidade sexual.

No entanto, no exato momento em que a minha namorada linda me olhou com cara de criança pequena ávida por conhecimentos e perguntou-me o que era ser lésbica, tive a mais absoluta certeza de que não queria ser outra coisa no mundo.

- Meu amor, eu não estou rindo de você, eu estou rindo da concepção que você tem de ser gay, e de como você vai ficar maravilhada em saber que não é bem assim que as coisas funcionam.
- E como é? Me conta!
- Bom, primeiro não existe essa coisa de passiva e ativa, de dominante e dominada. São duas pessoas que se amam e decidiram unir as suas vidas. Não há papéis sociais definidos. Não há homem-mulher, apenas duas mulheres que escolheram ficar juntas. - E o que isso significa exatamente?
- Que você pode me mandar flores quando quiser, que pode abrir a porta do carro pra mim ou puxar a cadeira de um restaurante se te der vontade e que você pode descobrir que seduzir é tão instigante quanto ser seduzida.
- Fala mais!
- Bom... tem também a coisa da amizade. Eu não estou falando que você não pode ser melhor amiga do seu marido, mas dificilmente entenderá porque você TEM que fazer as unhas na hora do almoço, porque a gente sempre diz que está sem roupa para sair mesmo com o guarda-roupas cheio, ou porque insistimos em tomar cafezinho com adoçante depois de comer uma fatia enorme de bolo de chocolate! E outra... ele pode até dizer que sim, mas nunca vai entender de verdade o que é uma TPM!

Isso sem falar na suavidade de um beijo feminino, na delicadeza do corpo, na relação de doação que existe na hora do sexo... mas essa parte você já sabe!

- Nossa, por que eu não comecei a namorar mulheres antes?
- Não é bem assim, meu amor. Você vai ter que enfrentar um dos sentimentos mais desesperantes com o qual um ser humano tem que lidar: a sensação de injustiça. Você vai ser apontada na rua, virar alvo de piadinhas, sofrer os mais diversos tipos de preconceitos, sentir muitas vezes o ar de desapontamento por parte de pessoas que você ama e se importa. E, o pior, tudo isso por tentar ser feliz ao lado da pessoa que você ama. Ser lésbica definitivamente não é um mar de rosas.

Nesse momento a minha namorada percebeu que toda a minha empolgação e segurança a respeito da minha opção sexual tinha ido para o espaço. Eu não conseguia mais olhar para ela, porque nao haveria mais certeza nas minhas palavras.

- Bia, eu acho que eu entendi então o que é ser lésbica. É seguir o coração. É amar e respeitar independente do julgamento dos outros. É não se deixar abalar e ter a convicção de que aquilo é a coisa certa a se fazer, que ninguém pode ser recriminado por amar.
-É....
- Agora é a hora em que você cala a boca, pega na minha mão e me prova que tudo isso vale a pena, como você faz todos os dias.

fonte: http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/2_105_64095.shtml

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